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Quadrilha acusada de manipular jogos lavava lucro das apostas, aponta MP

Com o sucesso do esquema, chefe do grupo calculava até pagar antecipadamente ao jogador invés de apenas um sinal

As investigações do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Goiás, sobre a manipulação e apostas no futebol brasileiro entraram em uma nova etapa. O novo foco da Operação Penalidade Máxima é apurar como a quadrilha lavava o lucro — que poderia ultrapassar R$ 700 mil em uma única rodada. Com o dinheiro, os integrantes planejavam ampliar o esquema, abrir um escritório e aproveitar uma vida de luxo com aniversário em Dubai, no Oriente Médio e viagens com os filhos à Disney.

Na denúncia apresenta à Justiça de Goiás em março, o Ministério Público anexou conversas entre os investigados que já indicam que o grupo lavava o dinheiro das apostas. Em um grupo, Bruno Lopez e Ícaro Fernando — também denunciado pelas manipulações, planejam a abertura de um escritório para o grupo operar. O local seria montado com o ambiente do futebol: piso com grama sintética e camisas de jogadores emolduradas. Com o sucesso do esquema, chefe do grupo calculava até pagar antecipadamente ao jogador invés de apenas um sinal.

Para tentar despistar as autoridades, segundo o Gaeco, Ícaro sugere que seja feita “uma” por mês ou a cada dois meses, “provavelmente se referindo a apostas manipuladas”. Logo em seguida, eles comentam a necessidade de lavar o dinheiro.

“Vamos ter que fazer essa grana ficar limpa”, escreve Fernando:

“Aquela lavadinha”, responde Bruno Lopez.

O uso de laranjas para o recebimento dos lucros também é discutido pelo chefe da quadrilha, mas com outro integrante. Em uma conversa em setembro de 2022 Thiago Chambó, apontado como um dos maiores financiadores do esquema, alerta Lopez sobre a necessidade de uso de laranjas para acobertar os ganhos:

“Nem transfere mais da sua mulher nem seu CNPJ. Pra ninguém. Nas próximas, entendeu? Pega umas contas laranja pra mandar” escreveu.

Rastro milionário

A sugestão, no entanto, não impediu das autoridades identificarem as movimentações atípicas nas contas de Bruno Lopez e de sua esposa Camila Motta. A pedido dos promotores, relatórios de inteligência financeira produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostram que somente o casal movimentou mais de R$ 2 milhões de março a setembro de 2022. O montante é cobrado na Justiça pelo MP, de forma solidária aos denunciados, para reparação de danos morais coletivos.

A investigação aponta que Camila Motta era a responsável administrativamente pelas operações financeiras. O Coaf identificou que entre 7 de março a 22 de setembro de 2022, ela recebeu mais de R$ 1 milhão em créditos em sua conta bancária. No mesmo período, saiu quase o mesmo valor. Segundo a denúncia apresentada pelo MP, como sócia do marido, era ela a responsável pelo pagamento aos jogadores.

Um dos pagamentos feitos pela conta da mulher foi a Emilton Pedroso, então jogador do São Luiz, clube do Rio Grande do Sul. Ele havia sido cooptado a cometer um pênalti no primeiro tempo do jogo contra o Caxias pelo campeonato gaúcho deste ano pela promessa de pagamento de R$ 70 mil pelo ato. Foram depositados na sua conta, antes do jogo, R$ 30 mil. O jogador confessou o fato e fez um acordo de não-persecução penal para não ser denunciado.

No relatório bancário, os analistas identificaram a possível prática de smurfing na conta de Camila Motta, que teria renda mensal de R$ 4,5 mil. A prática de fracionar os depósitos e quantias é comum em quem tentar lavar dinheiro. Ao diminuir as quantias em pequenas operações, o criminoso tenta evitar alertas às autoridades financeiras.

Para a empresa do casal, foi identificada a transferência de 14 PIXs da conta pessoal da mulher para a conta da BS Sports no valor de R$ 106,8 mil. Já para William de Oliveira Souza, um dos apostadores denunciados na investigação, foram recebidos por Camila R$ 140 mil em cinco operações.

“Verificado que os valores movimentados demonstraram volumes superiores à renda declarada (…) Sendo mais de 2 depósitos no período de cinco dias uteis em valores inferiores aos limites estabelecidos, por vezes diversas operações efetuadas no mesmo dia, ambas efetuadas com indícios de burla de limites regulatórios de reportes, incomuns a sua atividade comercial)”, diz trecho do relatório sobre as movimentações de Camila.

O relatório financeiro de Bruno Lopez durante março de 2022 também foi anexado ao processo pelos alertas feitos. Nos 31 dias, o apontado como chefe do esquema recebeu quase R$ 79 mil e gastou apenas R$ 1. Com as movimentações atípicas, um alerta de fraude foi gerado.

“Foi identificado no período que pessoas foram receptoras de créditos fraudados em contas de sua titularidade. Todas as contas já foram ou estão em processo de encerramento. Foram realizadas diligencias internas na qual se verificou que os mesmos poderiam ou deveriam saber que os recursos teriam origem em fraudes realizadas em contas bancarias das supostas vítimas”, diz trecho do relatório.

*Com informações do Extra

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