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DIA DOS PAIS

Poeta amazonense Thiago de Mello ensinou ao filho o amor pela arte

O incentivo do pai, – que morreu aos 95 anos em janeiro deste ano –, foi primordial para que mergulhasse no mundo artístico e cultural

O poeta amazonense Thiago de Mello e o filho, o cantor Thiago Thiago de Mello, durante apresentação. Foto: divulgação/Marcelo Fredá

Manaus (AM)- Os pais estão entre as maiores influências na vida de uma pessoa, seja no caráter ou na personalidade. Motivados pela inspiração e incentivo, geralmente, tendem a seguir também os passos profissionais, por afinidade, ou simplesmente por se orgulhar da atividade desenvolvida pelos pais. Para esse Dia dos Pais, celebrado neste domingo (14), o Amazonas Em Tempo traz a história de pai e filho que descobriram laços que podem ser eternos por meio da arte.

Filho do poeta amazonense Thiago de Mello, o compositor e cantor Thiago Thiago de Mello, de 40 anos, traz sua história como exemplo. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com ênfase em Antropologia e Sociologia da Cultura, Thiago optou por não encarar a rotina e decidiu seguir os mesmos passos do pai.

De acordo com o artista, o incentivo por parte do pai, – que morreu aos 95 anos em janeiro deste ano –, foi primordial para que mergulhasse no mundo artístico e cultural. Considerado até hoje como a maior referência poética do Amazonas, dentro da própria residência também foi referência para o filho.

“Ele sempre me incentivou a cantar, a compor e a escrever. Sempre fez questão de ouvir o que eu estava cantando e ver o que estávamos escrevendo. Ele sempre foi muito crítico no sentido prestar atenção no que eu estava fazendo. Sempre tive a figura do meu pai e força para subir no campo da música e da arte”, destacou.

Cantor e compositor Thiago Thiago de Mello ao lado do pai, o poeta amazonense Thiago de Mello – foto: acervo pessoal

Assim como o pai, Thiago Thiago de Mello busca valorizar, por meio das composições, as raízes familiares e expressa o elo com a Amazônia.

“Eu busco inspiração para compor canções no passado, infância, memória, ancestralidade, Amazônia, paisagem natural, natureza e relação dos seres humanos com a natureza”, disse.

Inspirado pela trajetória e vivência do pai, que passou a maior parte da vida trabalhando com a universo artístico, Thiago o enxerga como a maior referência para que seguisse nesse caminho cultural. Para o cantor e compositor, a longevidade, persistência, insistência e o rigor do pai foram os principais fatores que o fizeram fruto de admiração, não apenas no âmbito pessoal, mas também profissional.

“Meu pai sempre me inspirou de muitos modos. A persistência, insistência e o rigor de continuar fazendo o melhor do trabalho artístico é o que posso destacar. Sempre fui muito inspirado pela sua longevidade e isso sempre me encantou. Ele tinha essa ideia de atravessar a vida com música, arte e fazendo poesia”, expôs.

Perseguido durante o regime militar no Brasil, o escritor e tradutor Thiago de Mello se exilou no Chile por dez anos, porém não abandonou a escrita. Dentre suas obras mais conhecidas estão: “Faz escuro mas eu canto” (1965), “A canção do amor armado” (1966), “Poesia comprometida com a minha e a tua vida” (1975), “Os estatutos do homem” (1977) e “Mormaço da floresta” (1984).

Filho caçula do “poeta da floresta”, Thiago ressalta que a obra escrita por seu pai que mais gerou identificação foi o livro “Poesia comprometida com a minha e a tua vida” que reúne mais de 40 poemas escritos no exílio, entre 1971 e 1975, durante a ditadura militar. Em 1975, o livro foi premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, fazendo com que o escritor fosse reconhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos direitos humanos.

De uma família de artistas, Thiago destaca que, além do seu pai, também contou com o incentivo de outros familiares e relembra a influência do irmão mais velho – que faleceu em 2004 -, Alexandre Manuel Thiago de Mello, o “Manduka”, que foi um compositor e artista plástico brasileiro, considerado um expoente do rock nacional, tendo um estilo que transitava do rock ao tropicalismo.

Compositor Alexandre Manuel Thiago de Mello, o ‘Manduka, e Thiago de Mello

O tio Gaudêncio Thiago de Mello, foi compositor, arranjador e multi-instrumentista brasileiro, também relembrado como influenciador para seguir o caminho artístico. Irmão mais novo do poeta Thiago de Mello, Gaudêncio apresentava por meio de suas composições e os seus arranjos sofisticados para violão influências desde o folclore amazonense a Heitor Villa-Lobos.

“Eu sempre tive incentivo para seguir no ramo artístico tanto pela minha mãe quanto pelo meu pai. Meu pai foi poeta, escritor, tradutor e compositor; meu irmão Manduka também foi poeta, compositor e artista plástico. Meu tio Gaudêncio Thiago de Mello também foi músico, compositor. Todos eles me incentivaram a seguir um caminho onde eles já estavam”, declarou.

O adeus com arte

A despedida entre ambos foi da forma que tinha que ser: com música e poesia, o que considera como o maior ponto de encontro entre pai e filho. Um dia antes do falecimento de Thiago de Mello, o filho teve a chance de se despedir e conta que, apesar de debilitado, o pai se mostrou feliz enquanto ele cantava uma canção.

“Foi a última vez que conversamos, foi triste e bonito. Ele olhou para mim e perguntou o que eu andava fazendo e eu disse que estava cantando e fazendo poesia. Ele me disse que eu estava no caminho certo, o caminho da música e da poesia”, enfatizou.

O compositor Thiago Thiago ressalta ainda que o seu projeto atual envolve uma campanha de arrecadação de fundos, idealizada por ele, para reformar a casa histórica do pai, localizada no município de Barreirinha, no Amazonas.

Inicialmente batizada de Flor da Mata e, em seguida, de Casa da Poesia, a residência está localizada na Ponta da Gaivota, nome como é conhecido o finalzinho da praia de Freguesia do Andirá, banhada pelo rio de mesmo nome. O poeta amazonense a construiu em 1987, a partir de um projeto do arquiteto Lúcio Costa no mesmo local.

“Meu projeto atual é cuidar da casa da poesia, que fica em Freguesia do Andirá e estou revitalizando essa casa que foi construída pelo meu pai há mais de 35 anos e estava precisando de reforma, reparo, manutenção. Estou fazendo isso desde o ano passado e o projeto é transformar essa casa em um polo para residências artísticas, hospedagem culturais e imersões na Amazônia”, ressaltou.

Produções a caminho

Seguindo os passos do pai – autor de obras que foram traduzidas para mais de 30 idiomas –, em breve Thiago lançará o primeiro livro que leva o nome de “Uma Varanda no Meio do Rio” e conta que a obra, que está em processo de finalização, reúne poemas, letras de música e outros escritos em prosa, além de cartas de Thiago de Mello para ele e cartas do seu avô para o seu pai.

Por fim, o artista revela que, além de fazer arte, o que o pai mais o ensinou é a se manter firme, alegre a cantando, mesmo com os desafios que tendem a surgir durante o caminho.

“O que eu mais aprendi com meu pai é que a gente tem que seguir cantando e espalhando a alegria”, finalizou em entrevista.

Edição e pauta: Bruna Oliveira

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