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Manaus 353 anos

Mercado Municipal Adolpho Lisboa é ícone arquitetônico e histórico de Manaus

O mercado abriga 175 permissionários distribuídos em quatro pavilhões: carne, peixe, hortifrúti e pavilhão central, onde são vendidos peixes, artesanato indígena e caboclo, ervaria, frutas e verduras

Manaus (AM) – No próximo dia 24 de outubro, Manaus completa 353 anos. Em mais de três séculos de história, a metrópole da região Norte conserva prédios históricos, construídos na Época Áurea da Borracha, quando Manaus foi um importante centro financeiro.

No mês de aniversário da cidade, o Em Tempo destaca os principais cartões postais de Manaus, que contribuem não só com o comércio local, como com o turismo.

Esse é o caso do Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Localizado no Centro da capital, na avenida Manaus Moderna, zona Sul da cidade. O prédio é considerado um ícones da história arquitetônica da capital amazonense. Construído com inspiração na Belle Époque francesa, traz todo o charme dos mercados europeus da época para o centro de Manaus.

Popularmente chamado de ‘Mercadão’, o espaço abriga 175 permissionários, em quatro pavilhões: peixe, carne, hortifrúti e um central.

Mercado Municipal Adolpho Lisboa / Foto: Marcos Holanda

A vida no ‘Mercadão’

Natural do município de Manacapuru (distante 100 quilômetros de Manaus), Cristina Takeda, 59 anos, trabalha no mercado há mais de 30 anos com a família na famosa “Banca da Japonesa”. O espaço ocupado por ela, vende plantas diversas, ervas e remédios naturais. Com tantos anos dedicados ao Adolpho Lisboa, ela afirma que o local faz parte da sua vida.

“Nasci quase aqui dentro, porque já vim desde pequena acompanhando meus pais. Vim do interior, desde aí, estamos na batalha. Antes, a gente chegava duas, três da manhã e nossa banca era no pavilhão central, onde vendíamos frutas, verduras e hortifrúti. Após várias reformas, ficou mais bonito e recebemos turistas do mundo todo”, relatou.

O mesmo pensamento é compartilhado pela irmã, Ângela Takeda, 57 anos, que também atende na banca e cresceu no mercado.

“Isso vem de anos. Minha mãe começou isso aqui, passou para minhas irmãs e chegou até nós. É nossa vida, trabalho, ganha pão. Tudo é aqui. A diferença é que hoje o mercado é muito grande. Conosco aqui dentro, ele passou por três reformas e isso mudou muita coisa. Sempre digo para os turistas não deixarem de conhecer o mercado. Aqui é um patrimônio histórico, um pedaço de Manaus”, comenta.

Adelaide Pereira, 64 anos, passou 45 deles trabalhando no Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Ela vende ervas medicinais e tem um boxe com artesanato. De acordo com ela, tudo o que conseguiu na vida veio do trabalho no mercado.

 “Daqui eu vivo, como todos os locatários. Daqui vendo os chás medicinais que são muito procurados como ‘carapanaúba, unha de gato, sara-tudo, copaíba, sebo de Carneiro’. De tudo temos um pouco, diz.

A permissionária também relatou que, em todos estes anos em seu box, a época mais difícil foi quando tiveram que enfrentar o calor, durante uma das reformas.

“Nos tiraram aqui de dentro, onde havia nossos boxes com laje. Fomos para um cercado de ferro lá atrás. Um ano e quatro meses que estávamos naquele local, esperando o fim da reforma, houve um incêndio. O fogo e queimou tudo. Isso tem uns dez anos. Já estamos com oito aqui”, relembra.

Turismo e reformas

Para o historiador e professor Otoni Mesquita, autor do livro ‘Manaus – História e Arquitetura’, o ‘Mercadão’ teve, até a década de 1880, um papel muito importante na cidade.

“Na verdade, nós temos as tentativas de construir mercados, feiras que o anteciparam nas décadas de 50, 60 e nos anos de 1860, 1880, até a sua construção no ano de 1882. O Mercado, em sua primeira construção era voltado para o rio Negro. Posteriormente, nós vamos ter a outra fachada, virada para a rua dos Barés em 1906. Posteriormente, foram construídos os pavilhões laterais para venda de carne e peixe, por volta de 1909. No fundo, o local para venda das tartarugas, em torno de 1913/1915. Então, o mercado serviu a sociedade amazonense, até antes da instalação da Zona Franca de Manaus”, explica.

Mercado Adolpho Lisboa – Foto: Gildo Smith / Semacc

Mesmo com o surgimento da Zona Franca de Manaus, Otoni Mesquita considera que, apesar de ainda ter mantido ‘vida ativa’ na economia da cidade, por estar ligado ao rio, o que diminuiu a participação do mercadão na vida da cidade, foi a construção do projeto ‘Manaus Moderna’.

“Entre os anos de 1980/1989, o projeto ‘Manaus Moderna’ passou a ser instalado. Isso criou um certo afastamento do rio, apesar de haver ainda um certo contato. Houve um aterramento entre as laterais e quebrou um pouco a tradição. Em diferentes décadas se ‘brigou’ sobre o que seria construído no entorno do mercado. Na praia haviam verdadeiras feiras flutuantes, canoas, embarcações, chamando atenção dos viajantes. Muitas pessoas que passavam pela região o achavam exótico e escreviam sobre o lugar. Certamente era um dos pontos turísticos mais significativos na história de Manaus. Contudo, ele continuou ‘vivo’ com seus produtos regionais. Nos períodos de 1880 e 1910 se importava de tudo. Depois disso, voltou a contemplar um comércio mais regional”, explica.

Sobre a recuperação do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, Otoni Mesquita relembra o período entre os anos de 2006/2012, quando houve a restauração do local.

“Enquanto o mercado estava em obras, se desenvolveu o mercado da ‘Feira Manaus Moderna’ que se tornou tão vibrante quanto o de ‘ferro’. O que vamos ter depois é que, após a reinauguração do Adolpho Lisboa (chamado assim devido a um dos administradores do ‘Mercadão’ – oficialmente ele não tinha esse nome), foi aberto com muita animação, mas não com o ritmo que havia antes, já que a Feira tomou o lugar de compras e ele ficou mais dedicado ao turismo e ao artesanato”.

Réplica

Considerado um dos ícones da arquitetura histórica de Manaus, o mercado Adolpho Lisboa, no estilo art nuveau, é uma réplica do mercado Les Halles, de Paris. Símbolo remanescente da época áurea da borracha, o prédio é um expressivo exemplar da arquitetura do ferro no Brasil, tendo seu inestimável valor reconhecido por meio de tombamento no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde o fim do século passado.

O mercado abriga 175 permissionários distribuídos em quatro pavilhões: carne, peixe, hortifrúti e pavilhão central, onde são vendidos peixes, artesanato indígena e caboclo, ervaria, frutas e verduras. É o lugar ideal para provar a comida regional, conhecer os produtos típicos da região, comprar objetos de decoração e lembranças do Amazonas.

O mercado municipal Adolpho Lisboa funciona de segunda-feira a sábado, das 6h às 17h. Aos domingos e feriados, o mercadão abre de 6h ao meio-dia.

Pauta e edição Web: Bruna Oliveira

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