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Preocupação

Crise alimentar em decorrência da seca deixa população amazonense em alerta

Defesa Civil prevê que a seca irá afetar mais de 50 municípios e cerca de 500 mil pessoas

Reprodução: Dhyeizo Lemos e Phil Limma / Semcom

Manaus (AM) – Devido ao período de estiagem que assola o Estado do Amazonas, a Defesa Civil prevê que a seca irá afetar mais de 50 municípios e 500 mil pessoas. O boletim da Defesa Civil publicado nesta sexta-feira (6), 42 municípios estavam em situação de emergência, 18 em alerta e 2 em normalidade. Ao todo, são cerca de 273 mil afetadas pela estiagem deste ano.

Entre os inúmeros impactos causados pela seca, a falta de alimentação essencial e até mesmo, o consumo de água, preocupa os representantes municipais e estadual. Sem ter o rio para se locomover, muitas famílias estão isoladas, o que dificulta a chegada de ajuda humanitária.

Uma vez participante de uma cadeia alimentar, os animais que vivem nos rios da Amazônia estão morrendo em massa. Especialistas suspeitam que por conta do aumento da temperatura das águas e pela falta de oxigenação, os peixes não possuem condições de sobreviver no ambiente insalubre, e acabam entrando em estado de decomposição, contaminando o mínimo de água disponível para os ribeirinhos.

Impactos no ecossistema

Reprodução: REUTERS/ Bruno Kelly

A descida dos rios influencia, em diversos aspectos, a vida do ribeirinho. Um dos problemas decorrentes do fenômeno é a pré-disposição às doenças, devido à contaminação do rio.

“Tudo o que a gente faz, que afeta o meio ambiente, pode nos trazer problemas graves e afetar o ecossistema que estava em equilíbrio”,

disse em entrevista, o pesquisador em Saúde Pública, Felipe Naveca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Para evitar a proliferação de doenças como diarreicas agudas, hepatites A e E nas comunidades afetadas, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto e a Companhia de Saneamento do Amazonas, assinaram, no último dia 24, um acordo de Cooperação Técnica para aprimorar as ações de vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano no interior do Amazonas.

Além das doenças, outra preocupação atual está relacionada a alimentação dos ribeirinhos. Com a morte de peixes, a água se torna imprópria para o consumo, o que coloca em risco o desenvolvimento saudável da região.

“A seca vai causar impactos diretos na alimentação dessas comunidades, uma vez que vai dificultar a logística do transporte, ou até mesmo vai prejudicar a agricultura de subsistência feita por esses grupos”, sentenciou Naveca.

Após a morte de mais de 100 mamíferos aquáticos, como os botos vermelho e o tucuxi, que viviam nas proximidades de Tefé, uma mobilização entre órgãos de proteção ambiental iniciou-se nesta última semana. Até o momento, foram encontrados mais de 130 botos mortos na região.

Na Reserva do Abufaria, em Tapauá, interior do Amazonas, dezenas de peixes, da espécie dos pirarucus, amanheceram mortos na última quarta-feira (5).

Sem poder usufruir de alimentos direto da fonte, por conta do risco de intoxicação, muitas comunidades aguardam a ajuda de outras pessoas através da doação de alimentos básicos para suportarem até o fim do período da estiagem.

Ajuda humanitária

Reprodução: Marizilda Cruppe / Greenpeace

Em outras épocas do ano, os suprimentos chegam através de barcos que atracam na beira dos rios e a população pode escolher o que comprar. Com a estiagem, os alimentos ficam mais caros e as embarcações não chegam às comunidades, limitando ainda mais a necessidade básica daquela localidade.

Em Manacapuru, moradores das proximidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Lago do Piranha, amanheceram, no último dia 25, com diversas espécies de peixes mortos. Por conta desta situação, a água que antes era canalizada, ficou imprópria para o uso.

“A seca na região não está impactando somente a falta de água, a seca tem abalado também a nossa flora, nossa região está sofrendo com as perdas dos peixes e outras espécies. Os cidadãos estão fazendo doações de água para algumas regiões da zona rural”, comentou a moradora do município, Carolayne Ribeiro.

O prefeito de Manacapuru, Beto D’Ângelo, contou ao Em Tempo que no primeiro momento, a ajuda humanitária aos moradores do município chegou totalmente com os recursos da cidade.

“Nossas ações são 100% de recursos do município, estamos levando água potável em garrafões de 20 litros e entregando uma cesta básica. Em algumas localidades nós já estamos retornando para reabastecer, porque a água que a gente entrega dura três ou quatro dias no máximo, por cada família. Já passamos de 1.500 pessoas atendidas”, apontou D’Ângelo.

Devido ao decreto de situação de emergência instaurado no Amazonas, o governo federal anunciou um repasse financeiro ao estado para ajudar nas ações humanitárias dos municípios afetados, mas, de acordo com o prefeito de Manacapuru, essa ajuda ainda não havia chegado ao local até o dia desta entrevista.

“Tem um recurso previsto, que foi destinado ao Governo do Estado para ações, então, entende-se que terá uma ação conjunta entre estado e município, mas, por enquanto, estamos trabalhando apenas com recursos de Manacapuru, aguardando o governo federal e do governo estadual”, salientou Beto.

Doações de cestas básicas

Reprodução: Dhyeizo Lemos e Phil Limma / Semcom

Para evitar uma crise alimentar no Amazonas, tanto o Governo Estadual quanto os municípios já começaram a realizar ações de doação de cestas básicas e outras necessidades, como água potável e remédios.

Em estado de emergência, a Prefeitura de Manaus realiza uma força-tarefa para entregar mantimentos às comunidades ribeirinhas, atendendo até a manhã de quinta-feira (5), cerca de 3,5 mil famílias; entre o material entregue estão alimentos, água potável e kits de higiene.

Durante a ação, a moradora da comunidade São Sebastião, Vanessa dos Santos, disse em entrevista que a ajuda chega em um momento crucial, pois em algumas vias de acesso ao local, a altura da água chega a apenas 20 centímetros.

“Essa ajuda, graças a Deus, chegou em um bom momento, esse olhar para a nossa comunidade, isso vai ajudar muito a mim e aos meus filhos durante este mês”, agradeceu a comunitária.

Para atender a demanda do interior, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) entregou cestas básicas, remédios, água potável, combustível, entre outros materiais, para as comunidades Betel e Braga, que fazem parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Lago do Piranha, em Manacapuru.

Reprodução: Fundação Amazonas Sustentável

De acordo com o órgão, no último dia 29, uma equipe técnica da FAS foi até as duas comunidades para entender as necessidades emergenciais e depois disso, o órgão reuniu com empresas parceiras que se prontificaram a doar recursos para a compra de materiais que os ribeirinhos solicitaram. A entrega foi feita apenas na quinta-feira (5).

Impactada pelo desbarrancamento na comunidade Nossa Senhora de Nazaré do Arumã, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, o município de Beruri também está recebendo doações para ajudar as vítimas desta fatalidade. O acidente aconteceu durante o último dia 30 e deixou mortos, feridos e desabrigados.

A FAS está coordenando a campanha em prol das vítimas, que arrecada doações de roupas, materiais e alimentos. O material pode ser deixado na sede da instituição, que fica localizada na rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, Manaus. As doações financeiras podem ser feitas pelo PIX 002.444.472-33, na conta de Kely Regina Soares, moradora e líder comunitária do Arumã.

Reprodução: Mauro Neto / Secom

O Governo do Amazonas também está atuando nas cidades que passam por dificuldades. Em Beruri, Wilson Lima entregou, na quinta-feira (5), alimentos como arroz, feijão, macarrão, leite, açúcar, bolachas, frangos, e produtos de higiene pessoal, como papel higiênico, cremes dental e absorventes.

Uma tonelada de frutas também foi entregue por meio do Programa de Aquisição Familiar (PAF) da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS). A Defesa Civil do Estado entregou, ainda, 100 redes para dormir e 100 kits de higiene. Também foram distribuídos 10 mil copos d’água via Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama). Além disso, 1 mil frascos de hipoclorito de sódio foram entregues para minimizar problemas com relação à água para consumo humano.

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