Concursos de beleza na terceira idade quebram tabus no AM

Manaus (AM) – Estar bonito (a) é estar jovem? De forma alguma. Ainda visto como tabu por muitos, a valorização da beleza na terceira idade é algo que promove a melhora da qualidade de vida, além de trazer alegria e reduzir o estresse emocional. Os concursos de beleza voltados para os idosos tem feito sucesso no Brasil e no Amazonas não é diferente.

Desenvoltura, elegância e simpatia são alguns dos quesitos avaliados pelos jurados para a escolha da Miss e Mister Idoso Amazonas 2022, que ocorreu no último dia 20 de outubro, no entorno do Teatro Amazonas. Idealizado pelo fisioterapeuta especialista na área do envelhecimento e fundador do projeto Viver Mais, Wanderley Correia, de 43 anos, a quinta edição da iniciativa coroou Luiz de França Oliveira Filho e Nilza Borges como representantes da beleza da terceira idade amazonense. A iniciativa tem parceria com o projeto Viver Mais.

Buscando quebrar os tabus que envolvem a terceira idade, Wanderley ressalta que a realização dos concursos buscam atuar contra os preconceitos que existem em relação à idade e convida esse público a ter uma reconexão com a autoestima, reforçando a ideia de que há inúmeras formas da beleza se manifestar.

“Destaco que o mito de que o idoso é aquela pessoa encostada, sem força e sem utilidade em casa precisa ser desfeito. Os idosos de hoje são pessoas ativas, com poder de decisão e que buscam liberdade e a realização de seus sonhos como no caso da Nilza e do Luiz que, aos 61 anos, tiveram sua beleza premiada no concurso”, destacou.

Atualmente, Wanderley reside na Itália para estudos avançados na área. Mesmo de longe, ele acompanha as atividades do projeto que levam atendimento social e de saúde a cerca de 200 idosos em Manaus.

Ao passarem dos 50 anos, ouvir frases parecidas como “Você está velho demais para isso!”, começa a fazer parte do dia a dia de muitos idosos. O uso desses termos discriminatórios são chamados de etarismo —também podem ser chamados de idadismo ou ageísmo. Uma em cada duas pessoas no mundo já apresentou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos. Os números são com base em um relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde.

“Tiramos idosos da depressão e muitas das vezes do risco de suicídio. Esses comentários, por mais inofensivos que pareçam ser, afetam muitos aspectos da vida de uma pessoa idosa, e com o concurso conseguimos valorizar e melhorar a autoestima de cada um deles”, disse o idealizador.

O concurso é realizado anualmente no mês de outubro, em comemoração ao Dia Mundial (1º de outubro) e ao mês do Idoso. Mostrando que a beleza está presente em todas as idades, Wanderley também ressalta que a falta de apoio, na maioria dos casos, vem de dentro da própria residência.

“Os familiares devem entender que os idosos, de um modo especial: as mulheres, não são para cuidar de netos ou ficar em uma cadeira de balanço. Elas são ativas, importantes para a sociedade. Adoram estar bonitas, e esse concurso reflete bem a valorização que eles e elas merecem”, ressaltou.

Aos 61 anos, a Miss Nilza Borges tem como objetivo de vida representar a valorização da terceira idade no Amazonas e mostrar que os idosos não são pessoas esquecidas, mas sim, valiosas. Participante de concursos de beleza desde 2019, relembra que o seu início nesse universo ocorreu por meio da amiga Marizete Lacerda que faz parte do projeto Viver Mais. Sempre vivendo como dona de casa, Nilza ressalta ainda que participar dos concursos mudou a sua vida.

“Tinha pouco tempo que meu marido havia falecido e ela me via muito triste. Fui Musa do Amazonas em 2019, participei em 2020 com umas 24 pessoas entre homens e mulheres, fui coroada Miss em 2021 e agora a coordenação me escolheu novamente para receber a coroa”, disse.

Antes de começar a participar dos concursos de beleza, Nilza nunca imaginou a sua capacidade de sair vitoriosa nesse âmbito. De acordo com a Miss, os concursos a fizeram se enxergar de outra forma, tendo em vista que antes se encontrava com baixa autoestima e com a saúde mental afetada.

“Isso tudo nunca esteve nos meus planos, eu nem sonhava, nunca pensei em participar de um concurso e nunca pensei que eu fosse bonita. Para mim foi uma surpresa muito grande, uma honra, foi muito bom para a minha autoestima, porque eu vivia depressiva e com ansiedade. Esse título está sendo muito bom. Eu vou me esforçar com tudo de mim para representar a melhor idade do estado do Amazonas. Estou muito feliz com isso tudo”, pontuou.

Em sua primeira experiência com concursos de beleza, o autônomo Luiz de França Oliveira Filho, de 61 anos, não poupa palavras ao falar sobre a oportunidade que surgiu no momento, como considera, da “melhor idade”.

“Na melhor idade, geralmente, as pessoas se retraem e isso não é muito bom. Percebem que, com o tempo, surgem as limitações, as dores e isso tudo desencoraja o idoso. Participar de um concurso como este nos coloca adiante para romper com a visão de que o idoso só quer estar em casa longe de tudo e de todos”, comentou.

Para o mister, a sensação após ter participado do concurso é uma das melhores. Sempre com o apoio da família, ressalta que participar dessas competições é algo que pretende levar para a vida.

“Nunca tinha participado de um concurso de beleza antes. Minha família está gostando e me dando a maior força. Para mim, uma das melhores coisas da competição foi estar próximo das pessoas e despertar o interesse delas, além disso, ser aclamado também é algo muito bom. É bom usar um pouco de formalidade de vez em quando, a vida nos mostra essa necessidade. Pretendo continuar competindo para ver o que pode surgir no futuro”, concluiu.

Pauta e edição Web: Bruna Oliveira

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